A
LÓGICA DA SEPARAÇÃO
Não é incomum
encontrar pessoas que declaram imenso amor ao parceiro, mas que, ao perdê-lo,
desejam sua máxima infelicidade. Outras vão além, almejando-lhe a morte. Tudo
isso em meio a declarações de amor eterno. Ora, seria de esperar que ao amado
se desejasse a maior felicidade, qualquer que fosse a situação: próximo ou
afastado, vinculado, ou desvinculado. Como explicar um amor que não faz votos
pelo maior bem a quem se ama? De que forma entender tal anseio de infelicidade
e morte?
O impulso pode ser
compreendido sob dois aspectos: 1- estratégia de reconquista; 2- castigo e
vingança. No primeiro caso, funciona a fantasia de que a infelicidade do ser
amado o trará de volta. Ele se convenceria de que a única felicidade possível é
ao lado da pessoa que o ama. Nessa modalidade de amor cruel, observa-se um
egoísmo sem limites em relação ao parceiro perdido. O fundamental é ter a posse
do amado, não sua felicidade. Melhor serem infelizes juntos do que felizes
separados. O amor aqui só consegue exercer-se num contexto de exclusividade, de
limitação do horizonte do outro. Surgem a vigilância e o ciúme excessivos e o
desejo de infelicidade do parceiro.
Quanto ao segundo
contexto, de vingança e castigo, a vontade de que o ex se dê mal nos remete a
uma época na qual o bebê sente ser dono da mãe e teme perdê-la ou perder a
exclusividade de seu amor. O bebê necessita de uma relação de exclusividade. Se
não houver um desenvolvimento elaborativo dessa necessidade, ela pode ressurgir
tão crua e cruel no adulto quanto o era na infância. O anseio de exclusividade
impõe-se como absoluto. O parceiro não pode sequer desviar os olhos, pois, se
assim o fizer, o ciumento se sentirá negligenciado e abandonado — como se fosse
um bebê. A atenção ao outro é sentida como um ataque a sua autoestima — o amor
exclusivo de uma mãe idealizada torna a criança uma criatura especial neste
mundo, valorizando-a e tornando-a única entre todos.
Certamente os leitores
perceberam uma certa confusão entre mulher, mãe, criança, adulto. É uma
confusão inevitável na medida em que o funcionamento do inconsciente é
semelhante em todas as idades. É preciso aceitar esta confusão, limitando a
lógica cartesiana em favor de uma lógica da complexidade.
Nahman
Armony
Primeira
publicação na revista CARAS.
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